26.5.10

p.

"Partindo de palavras pífias,
permaneço inquieto sobre as pontes que pairam sobre meus pés.
Perco-me sobre o olhar dos pássaros,
partilho meu cigarro com algum maltrapilho,
peço a ele que se junte a mim,
permanecendo quieto até o fim.

Parto para a minha parada,
peço as horas para uma prostituta,
prontamente ela resmunga:"perto das onze"
paro o ônibus e sigo para meu paradouro.

Lá permaneço pensando,
poetizando minha vida pobre.
Poesias surgem de palavras.
Pessoas exprimem suas idéias.
Pirações explicitam suas loucuras.
Pixadores pintam as paredes.

Eu escrevo tais palavras só por prazer."

jer.

25.5.10

Pra ti gordoloco

"Andando pela cidade,
ao som de uma banda de amigos,
sigo meu caminho insólito.
Fumo meu cigarrinho,
entro na Duque de Caxias,
rumo a cidade baixa.
Que tampouco é tão baixa quanto o chão.

Lá vou as alturas,
ando por todas as ruas,
ando e vejo meninas nuas.

O refrão me diz:" Eu sempre sempre fui o bêbado mais inteligente do bairro, agora não sabia o que fazer?"
E não é que eu não sei também...
Só sigo meu rumo,
busco prumo e sumo.
Paro para mais um cigarro,
cuspo aquele pigarro,
esgoto meu dinheiro em cerveja,
esgoto meu tempo com qualquer pessoa que seja.

Pego meu transporte,
meu motorista quase particular.
Volto aos meus devaneios em meio ao transporte público.
Penso nela e em seus pelos púbicos rubios.

Lembro que naquela manhã eu sorri para ela,
senti que ela também ia sorrir,
mas sequer trocou um olhar comigo.
Sequer um olhar amigo.
Sequer pude me abrigar no seu umbigo.
Soube que desde então seria agora seu inimigo.

Hoje fujo dela,
fujo daquela cadela.

Ao som dos Novos Macacos,
junto meus cacos,
meus cachos de banana,
tiro uma pestana,
sabendo que eu sou aquele bêbado do bar."

jer.

24.5.10

ócio cansativo

"Não desejo os teus desejos,
não anseio por teus beijos,
tampouco por teus sussurros ao pé do ouvido.
Não quero ser teu marido,
nem quero ser de teu domínio.

Não te vejo no meu pensamento,
não quero estar contigo em algum momento.
Eu quero é ficar só,
eu quero é fugir do sol,
fugir de ti.

O que era paixão,
cresceu na ilusão,
afogou-se nos prantos,
perdeu todos meus encantos,
por este amor ilusório,
que nunca resultaria num casório.

Prefiro que sejas feliz,
te encontrarei bem calma e mansa,
casada por um bitolado de pansa,
que sequer sabe que um dia tu quis,
um dia quis ser feliz,
escrever corações na parede de giz,
quis trocar palavras de amor,
quis trocar a dor pelo amor,
quis permutar beijos por afagos.
então eu divago,
fujo pra longe,
de ti,
de nós,
de todos."
jer.

14.5.10

O zero

" Trazia seu traste troço de Tróia,
teria tangido o sol se fosse tão cheio de grana e beldade.
Viajou do céu ao mar, da terra ao sul.

Viu do azul ao negro do chão.
Mas sempre será seu sofrer por sua tês negra.
Beijou uma grega,
branca como cocaína.
A viu menina, ninfeta, hoje mulher.

Seria sua se ele não fosse escuro,
caiu de cima do muro,
e pintou sua pele de negro.
Matou o pai grego,
mas ela matou-o de ódio."

Jer.

Não sei o que dizer

* Nascida aos pés nus,
subiu ao céu azul,
ferida por um fato popular,
crescida num cotidiano secular.

Feria o ar seus olhos,
azuis de um azul cheio,
esbugalhados e vazios,
perdeu-os em meio ao meio.

Chorou lindas lágrimas brancas,
salgadas de saudade,
descia em suas "ancas faciais",
herdada de um belo amante.

Molhou seus pés,
ao sopé de uma cachoeira,
primeiro deu um grito de revés,
primeira quebra de seu amor.

Seu fervor amado,
armado por sentimentos metálicos,
munia com enfado,
mexia-os como se fossem fálicos.

Perdida em sua primeira transa,
mansa de sal e suor.*

jer.

11.5.10

É preciso lembrar de esquecer...

"Lembro de algo que já havia esquecido,
busco no meu inconsciente o que era apagado.
Relembro de todo meu legado,
de rei,
de conde,
de príncipe.

Havia esquecido de todos meus terrenos,
de todas minhas amantes,
de todos os instantes ao qual fui ilustre.
Dos jantares que fui recebido,
do vinhos caríssimos que eu já havia bebido,
das mais belas damas que sentaram e deitaram sobre meus braços.

Hoje no meu pensamento se esconde,
o que era passado,
hoje nem sei por onde,
busca-se a memória do esquecido.

Repito mentalmente:"Nunca esqueça de esquecer...",
mas eu esqueço sempre de lembrar que esqueci.
eu sempre lembro do que não havia esquecido,
sempre lembro do resquício do passado.
Sempre lembro do que não era errado,
e hoje se trata de um acerto.

Agora lembrei que esqueci do resto do poema."

jer.

nem sei denovo.

"Exprimo meus pensamentos odiosos por palavras francas,
retorno e contorno cada sílaba pelas ancas,
ouço o som de cada fonema como se fossem metrancas,
estalidos secos e diretos sobre meu ouvido.

Perco o sentido ao ouvir tais sons,
me acho no meio do meu sono.
Sonho com sons mudos,
vejo a imagem sobre meu rosto,
mas não escuto sequer um som.

O que era bom,
tornou-se ruim,
e o que era ruim,
tornou-se pior ainda.

Movido por um pânico caótico,
corri até um pórtico para encontrar-te só.
Sozinha a minha espera,
disse que ela não só era, como foi minha querida amada.

Sorriu de relance e correu para longe,
sentou-se num café para sorver um vinho,
sentei-me numa mesa ao seu lado sozinho.

Queria ter o prazer de beijá-la.
Queria ter o dom de afogá-la com meus beijos.
Queria ter ela só para mim sem amantes ou desejos."

jer.

10.5.10

nada.

"Subo ao topo do teu corpo,
me encontro no teu beijo,
desço sobe o vale do teu seio,
e me encarrego de rolar no teu ventre.

O calor do teu corpo rente,
me provoca o aguço de alguns sentidos.
Ouço teu soluço,
e escuto teu coração.

Tomada de prazer,
sem ação,
caio nas tentações do teu sexo.

Lhe digo poesias sem nexo,
sopro qualquer palavra ao teu ouvido.
lhe beijo da boca ao pé do ouvido.
lhe beijo do seio aos pés.

Sem revés de culpa,
aceito teu prazer pela gula,
de querer-te bem ao meu lado.

Teu sexo sem nexo pra mim é perfeito,
sem receio de nada,
nem de ninguém,
só para estar contigo."


jer.

intothework

"Em suma resolveu-se o que faria da vida,
tomou seu gole de partida e sorriu para a mesa ao lado.
Prostrada, levantou-se para seguí-lo.
Analisou sua proposta em silêncio,
que sem palavras afirmou que sim.

Saiu daquele bar escuro e olhou a claridade da noite,
os postes cheios de luzes amarelas.
Os mesmos postes que ficam por ali anos e anos.
Estáticos, parados.

Aquela noite não seria mais como o combinado,
partiram para um bairro longínquo.
Um bairro desconhecido por ela,
que nem sequer sabia que rua era,
que cidade estava.

Entraram numa casa branca,
cheia de pessoas aguardando,
entraram sussurrando e se beijando atrás de um local.
Um local a sós,um local para os dois.

Encontraram-se naquela banheiro,
menor que uma cabine telefônica,
ela sentia-se afônica,
sem expressar uma só palavra.

Começa o ato sobre sussurros e gemidos,
estalidos de beijos se fundem a apertos e gestos.
Seria funesto dizer que ela não queria.
Se doava, ria e sentia o prazer.

Dormiram após horas,
dormiram por horas e horas,
acordaram atordoados perdidos nas horas.

Saíram atrás de um vinho,
atrás de um carinho,
atrás de alguém que pudessem falar sozinhos.

Assim foi sua história,
um tempinho em meio de glórias,
um traguinho para esquecer o prazer."

jer.



9.5.10

Na rede

"Chamo aos berros teu nome,
te ligo, te chamo ao telefone.
Deixou súplicas de um amor perdido.

Percebido depois de um tempo,
como sombra que some ao vento,
que ele tornar-se-a falho.

Retiro-me aos bugalhos,
me atiro em galhos,
por raiva deste amor.

Tornou-se dor , aquele amor bandido.
Aquele amor surgido de um só olhar.
Que tocaram-se os olhos,
perdeu-se os sentidos,
enebria sua mente,
e la estavam os dois colados de repente.

Frequentemente te tenho em mente,
mas me salvo nos corpos,
nos copos.
Sem ti."
jer.

3.5.10

nem sei.

"Repleto de pleitos repito meu voto,
encontro no meu copo uma paixão mal resolvida.
Lembrei do dia da partida,
e chorei por aquela querida.

Bem quista por todos,
jurou-me cheia de engodos,
e amargurou sua razão sobre meus braços.
Enchi ela de laços,
abraços,
desfiz o que faço e fugi de raiva.

Atravessei a rua aos prantos,
deitei num canto,
tentando tentar te esquecer.

Fiz o que tinha que fazer,
fugir para não sofrer,
me perdi para não te perder,
saí querendo morrer.

Não era o que eu queria,
mas foi o que eu sempre quis.
Sozinho me refiz.
Sozinho parti para Paris,
para nunca te ver mais."

jer.